segunda-feira, 29 de março de 2010

Pelo aniversário de Herculano II

Alexandre Herculano, o "político"
Pelo Prof. Doutor José Augusto Seabra

«Sei que Deus é Deus e o homem livre»

Onde começam e terminam pois a poesia, a religião, a filosofia, a economia, a sociologia e a política? É preciso ainda não esquecer que, na visão de Herculano, a liberdade — por individual que seja — encarna comunitariamente numa instituição histórica: o municipalismo, que de Idade Média Portuguesa, por ele a fundo estudada, quis transplantar para a actualidade. Que admira que o liberalismo acabe por se negar aparentemente a si mesmo, a tal ponto que, combatendo como combatia a democracia e a república, tenha um dia desabafado: «sem ser republicano, chego a pensar que sou o único democrata neste país».

E, no entanto, a democracia, ao impor o princípio da vontade das maiorias, era-lhe insuportável, tanto como a tirania: «que a tirania de dez milhões se exerça sobre um indivíduo, que a de um indivíduo se exerça sobre dez milhões deles, é sempre a tirania é sempre uma coisa abominável». A inferioridade ou superioridade da República face à Monarquia, enquanto regimes políticos, é entretanto para ele uma «questão secundária», pois tão ilegítimo lhe parece «o direito divino da soberania régia, como o direito divino da soberania popular». Num e noutro caso, o erro está precisamente em considerar a soberania como um «direito», quando, em sua opinião, «a soberania não é direito, é facto». Como, pois, aplicar-lhe a teoria do «Contrato Social» de Rousseau, baseada na ideia da «vontade da maioria» como «vontade geral»? Não, para Herculano, que diz nunca ter encontrado uma «definição precisa e rigorosa» da democracia, não se trata senão, no fundo, de «apoucar o indivíduo» e «engrandecer a sociedade».

Da condenação da lógica democrática ele infere consequentemente a do socialismo: «a democracia — diz ele — estende constantemente os braços para o fantasma irrealizável da igualdade social entre os homens, blasfemando da natureza que, impassível, os vai efervescente gerando física e intelectualmente desiguais». (...)

E, finalmente, Herculano acaba por considerar o socialismo uma religião, no sentido dogmático do termo: «o socialismo é uma espécie de religião e, como todas as religiões, tem dogmas, e os dogmas, por via de regra, pertencem ao mundo do sobre-inteligível»

1 comentário:

cristina ribeiro disse...

Uma Santa Páscoa, Pedro.