quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

Indignações rivolutadas dos rivolutos do costume
Ontem Eduardo Prado Coelho, na sua coluna habitual do Público, dedica uma das alíneas ao facto de Filipe La Féria ter obtido a exploração do Teatro Rivoli no Porto, declarando-se "estarrecido", "embora nada tenha contra Filipe La Féria" e classificando de "rasteira" a política cultural do executivo camarário do Porto, sendo a passagem do teatro para a gestão de Filipe La Féria "uma machadada no tipo de espectáculos que o Rivoli vinha exibindo até então".
Hoje no mesmo Público vem a seita dos Iluminatti portuguesa, o Bloco de Esquerda, "denunciar a negociata anunciada". Mais: "Os bloquistas vaticinam que, a partir de agora, haverá no Rivoli «produção cultural comercialóide [sic], de má qualidade e sem ligação à cidade, paga em boa parte por dinheiros públicos (os que recuperaram o Rivoli e os que a câmara continuará a assegurar, nas funções de manutenção)»."
Esta última frase destes "justiceiros" dos oprimidos só denota a habitual falta de honestidade intelectual e a sua demagogia retórica meia biruta e retorcida. Dizer que a futura exploração continuará a receber dinheiros públicos para depois "explicar" que foram os já outrora aplicados, obrigatoriamente pelo visto, isto é "os que recuperaram o Rivoli". Quanto aos critérios de gosto, a avaliar pela chusma de inteligência culta que pulula pelos meandros bloquistas não admira que aquilo que vinha sendo apresentado no Rivoli agradasse a eles. Chato foi o pormenor de não agradar aos portuenses. Mas segundo os iluminados do BE também a nova entidade exploradora é desprovida de espírito da Invicta, pois "sem qualquer ligação à cidade". Incrível como estas autoridades intelectuais conseguem estabelecer ligações urbanas, eu nem pergunto como pois até receio a resposta...

Já em relação a Eduardo Prado Coelho, gostaria de comentar o seguinte:
  1. Tenho muito respeito por Eduardo Prado Coelho, não só pelo seu notável currículo académico como pelo seu espaço de opinião que, concorde-se ou não com ele, é um espaço de qualidade.
  2. Não pude ficar indiferente à coragem a que já nos habituou Rui Rio, quando decidiu pôr cobro a uma situação injusta pela qual um grupo vastíssimo de mais de 30 elementos eram subsidiados com o dinheiro dos contribuintes sem que estes fossem compensados com espectáculos a seu gosto. Compreendo no entanto o papel destes elementos que convencidos que estão de produzirem espectáculos de qualidade acham injusta a perda do seu ou de um dos seus sustentos. Aí não terão eles culpa, mas sim quem lhes atribuiu antes esse mesmo sustento.
  3. Não posso concordar com Eduardo Prado Coelho quando ele chama de "rasteiro" a quem tem de gerir um espaço público e ter a batata quente de decidir a quem vai entregar a gestão desse mesmo espaço e decide por quem apresenta resultados e garantias melhores. Para a área política e para a sensibilidade cultural de EPC os subsídios públicos não devem olhar a lucros desde que determinado tipo de espectáculo seja exibido e corresponda aos seus parâmetros de qualidade. Por muito que isso custe a nós contribuintes. Mal eles se lembram que antes de existir política de subsídios públicos também existiam espectáculos de qualidade indiscutível, quer quando agradavam ao público quer quando era o mecenato a proteger determinados artistas. A política de mecenato cultural em Portugal quase não existe devido ao papel do Estado que praticamento o substituiu.
  4. Ignora também EPC que a vinda de espectáculos que mobilizem multidões e tragam dinheiro à Invicta ajuda também a mobilizar a decrépita Baixa Portuense e acabem por atrair pessoas para outro tipo de espectáculos, menos comerciais.
  5. O único espectáculo teatral a que fui assistir no Rivoli saí a meio e paguei mais de 10€ pelo bilhete. Na sala poucos ficaram, e desses poucos tinham pago bilhete pois eram convidados - facto que desde o Porto 2001 é corrente em diversas salas de espectáculo no Porto (não sei se em Lisboa também não será assim mas isso já é offtopic). Por isso nada me surpreende que a gestão desse espaço estivesse de rastos antes da intervenção de Rui Rio.
  6. Os slogans grotescos que os activistas anti-Rio encetaram pelo Rivoli voltam-se contra eles próprios: RIVOLIVRE é um conceito óptimo que designa precisamente um Rivoli livre da tutela do Estado, dos arranjinhos político-partidários, nas mãos de uma gestão privada, independente e competente.

6 comentários:

Fernando Rola disse...

A coragem de Rio merece de facto realce.

Senão, vejamos:
- Desde que ele chegou à Câmara, fecharam quase todos os grupos de teatro que havia na cidade, sobrevivendo o Seiva Trupe, e por fases

- O FITEI, que era um dos mais importantes eventos de teatro da Península, MORREU

- O Fantasporto, festival de cinema conhecido por todo no mundo cinéfilo, está moribundo.

- Acabámos de passar toda a época natalícia e de mudança de ano sem UMA ÚNICA iniciativa cultural da responsabilidade (ou apoiada) pela autarquia.

É, de facto, preciso ter muita coragem para assassinar de forma tão eficaz a cultura na cidade.
E quanto ao Rivoli, Pedro, guarde este escrito e, da próxima vez que a Câmara apresentar contas, vai procurar com atenção que é possível que se surpreenda com os gastos da Câmara com o La Féria (perdão, com o Rivoli). Estarei cá para ver (espero).

Fernando Rola disse...

Regresso para repor a justiça.
Afinal a coragem de Rio deu para um outro evento espectacular no Porto: o Grande Prémio de Fórmula para Carros Antigos (também conhecido por Grande Prémio dos Calhambeques). Foi há dois anos e custou, contas oficiais, um milhão de contos. Pelo orçamento deste ano, não daria para mais do que quatro anos de gestão do Rivoli...
Obviamente, é preciso ser "corajoso "para gastar um milhão de contos num evento de interesse mundial (acredito que alguém para lá da Boavista se interesse pelo facto, como provaram os poucos espectadores - para além dos jornalistas - que assistiram à primeira edição) que enche o ego do presidente em vez de nomear uma administração verdadeiramente competente para gerir um espaço que deveria ser da cidade. Não, mais fácil é entregar amigo La Féria que, certamente, dentro de algum tempo dirá, como qualquer romano que acompanhava César, "veni, vidi, vici". Ave César!
Já agora, a segunda edição do Grande Prémio já está anunciada... Enfim!

Pedro disse...

Fernando, permita-me:

- O FITEI morreu, pois morreu um moribundo que ia resistindo antes da gestão Rio, graças aos fundos da câmara, i.e. aos nossos.
- A ideia de que o Fantasporto está moribundo é no mínimo subjectiva. Não é a opinião da Beatriz Pacheco Pereira que já tem preparado o calendário para 2007, precisamente no famigerado Rivoli e precisamente para dinamizar quer o Festival quer o teatro.
- "Acabámos de passar toda a época natalícia e de mudança de ano sem UMA ÚNICA iniciativa cultural da responsabilidade (ou apoiada) pela autarquia": realmente é muito triste viver num país em que as iniciativas culturais dependam das autarquias. Esperemos que seja uma questão de tempo.

Quanto às contas do Rivoli, esperemos por elas. Se o futuro lhe der razão darei o braço a torcer. Mas convenhamos que não é lá muito correcto calcular os custos em despesas que já foram levadas a cabo tal como os bloquistas fazem, pois não?

Fernando Rola disse...

Pedro

O FITEI não estava moribundo, passava por uma reformulação e, aproveitando o facto, foi assassinado pela estrutura do dito senhor

o Fantasporto está mesmo em crise e, para sobreviver, até "descentralizou", alargando-se a outra cidade. Se não entende os sinais, o futuro vai explicar as razões porque o destino será o mesmo do do FITEI

Já agora, Pedro, pago demasiados impostos ao Estado para que me digam que a cultura depende esclusivamente dos privados. Errado é o critério cada vez mais utilizado para distribuir os apoios: pró amigos!

Já agora, e porque o tema, infelizmente, é a personalidade e não a cultura, gostaria que tivesse feito uma referenciazita ao GP. É que o dinheito ali gasto também sai dos nossos bolsos... Uma questão de critério

Pedro disse...

"Já agora, Pedro, pago demasiados impostos ao Estado para que me digam que a cultura depende esclusivamente dos privados"

Com a primeira parte concordo completamente, já com a segunda não concordo nada, pelo seguinte:
-Nunca defendi que a cultura devesse depender exclusivamente dos privados;
-Pagamos impostos a mais é verdade, que deterioram o poder de compra da classe média, e para quê? Para sustentar parasitas, não apenas na cultura como em todas as áreas.

Quanto ao GP, eu não omiti nem de propósito nem sem propósito, acho simplesmente que tem pouco que ver uma coisa com a outra. O GP é um evento que envolve patrocinadores, a promoção do comércio local, a vinda de turistas, e... infelizmente também verbas camarárias. Entre brincadeiras com carrinhos e calhambequezinhos e cinema, prefiro de longe o cinema. Contudo o GP dura apenas um dia...

Quando um evento cultural ou não precisa de injecções do erário público, para sobreviver, é porque está mal gerido. Logo se calhar esses "sinais" que o Fernando "entende" como mau prenúncio são apenas mudanças inevitáveis numa gestão danosa para os bolsos de todos nós.

Uma vez que deve viajar bastante já deve ter reparado que em Espanha, Inglaterra, Itália, França etc. não faltam filas para as bilheteiras dos teatros. E não faltam por lá teatros. O público paga o teatro mas paga para ver e não para não ver... Pergunte a um produtor, encenador etc. de lá se tem subsídios do Estado. Eu já o fiz e a resposta pôs-me vermelho de envergonhado.

Pedro disse...

"Depois, e para não perder mais tempo com a sua opinião: talvez não fosse mau diversificar aquilo que vê para melhor concluir da afluência de público a determinados locais é que o senhor não faz a mais pequena ideia do que está a falar."

Graças a Deus tenho quem perca tempo com a minha opinião, ou não receberia comentários do Sr.Rui Santos que, embora não conheça nem faça ideia de quem seja, vejo pela erudição da escrita deste comentário que deve ser alguém que, no mínimo, se tem em grande conta!
Obrigado pelas sugestões, mas eu ainda terei de ver muito bons espectáculos, aqueles de que o Sr. Rui indicar nos meios competentes como adequados, para chegar aos calcanhares de quem se autopromoveu aos píncaros da Lua.