quarta-feira, 4 de março de 2009

Ora, ora senhores, isto são conversas de café...

Dizia Aquilino Ribeiro que "a palavra como a lança longe alcança". As palavras deste Café são mais inofensivas do que as do Malhadinhas, por isso nunca o autor pensou alcançar tão longe tão longe e tão acima de si como desta vez, se calhar malogradamente, involuntariamente, o conseguiu.
Neste Café, como é comum em estabelecimentos deste tipo dizem-se disparates, desabafa-se, assumem-se veleidades, por vezes a emoção é mais forte do que a racionalidade. São características próprias de um espaço pessoal sem pretensões a ser fonte doutrinária de qualquer espécie.
O que eu não contava era que isto desse origem a reacções deste tipo, por parte de quem eu sempre tive em conta como alguém mais culto e intelectualmente mais esclarecido do que eu, acusando o toque de algo que nada indica ter sido escrito para ele nem para ninguém em especial.
Numa coisa o Corcunda tem razão em relação a este post, pois ele de facto "responde a menos perguntas do que os buracos que tem", pois aqui o "conservador de Café" reconhece que não tem capacidades para responder a perguntas, e duvida de quem as pensa ter na ponta da língua, sendo precisamente isso que deu origem ao texto em questão. O leitor habitual daqui do tasco sabe que os textos da casa pretendem levantar mais questões do que aquelas a que responde. Se isto acontece por deficiência cognitiva, ou por defesa em relação à sua ignorância, cada um que tire suas conclusões. O que posso dizer é que procuro ter a honestidade suficiente para que as minhas reflexões e divagações presentes nos textos não tenham a pretensão de "ensinar" nem de descobrir a pólvora mas sim com elas comunicar e talvez mesmo aprender, pondo deste modo a escrita em dia num diário público que caracteriza o espaço de um blog.
Noutro aspecto, equivocou-se o Corcunda ao dizer que com meu texto defendo o presente. Embora reconheça que posso não me ter feito explicar bem, mas quem conhece os textos deste blog sabe o tom e a abordagem crítica adoptada em relação ao dito Presente e a tudo aquilo que lhe diz respeito e nem preciso mencionar trotskismos, socialismos e todos os "ismos" execráveis deste mundo, aos quais se chega mais provavelmente prenhes de certezas do que manifestando dúvidas. No entanto, posso ter a veleidade de ter quase a certeza que nada pode ser edificado sem tomar em conta o presente, quer naquilo que tem de mau quer naquilo que nele permanece de uma determinada tradição reabilitável. Para tal ser possível não é suficiente o pensamento e impõe-se a acção.
No meu entender, se na nossa sociedade não resta nem permanece qualquer resquício de tradição valorosa nem homens capazes de nela edificarem algum futuro, então a abordagem ao conservadorismo apenas poderá ser meramente enquadrável em nostalgia saudosista e nesse caso qualquer divagação ontológica tendo em vista uma praxis deixará de fazer sentido, pois ninguém divaga na inexistência ou apenas no passado, excepto sob capricho académico.
To be conservative, then, is to prefer the familiar to the unknown, to prefer the tried to the untried, fact to mystery, the actual to the possible, the limited to the unbounded, the near to the distant, the sufficient to the superabundant, the convenient to the perfect, present laughter to utopian bliss.
Michael Oakeshott, no ensaio On Being Conservative (1956)

2 comentários:

Hernâni Caroço disse...

A propósito desta exaltada cena de porrada que fez voar as mesas deste café insone, posso dizer que não sei quem começou: se Cronos se Cairos!
O que se sabe é que o presente não tem quem o defenda! O passado todos o defendem: os saudosistas e os teóricos de bancada agora reciclados nos blogs. O futuro também tem a sua equipa de guarda-costas. Agora quem defende o presente é logo apelidado de 'vadio', 'malandro' e o que mais.
O pessoal habitua-se a dizer mal por automatismo sem saber a quantas anda.

Sai uma sopa com molho de bifana bem picante aqui po primo! :D

Pedro disse...

Hernâni

Esta casa é ordeira, mas assim como o donos e exalta há outros doutras bandas que podem incorrer no mesmo erro. Que Deus os guie em plena época quaresmal, que deveria ser pouco propícia a desavenças e insultos por parte de quem zela pela Religião.