segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Sobre as declarações de James Watson e o recalcar de velhas feridas incómodas

In Cachimbo de Magritte, texto de Carlos Botelho

Acontece que ninguém pode dizer seriamente que “os negros são menos inteligentes do que os brancos”. É o tipo de parvoíces que, apesar de tudo, se podem ouvir, apiedadamente, de algumas pessoas. Mas não de outras.
Para lá dos problemas que levantam as expressões “mais” e “menos” aplicadas à qualidade “inteligente” (não é de todo o mesmo que dizer “este pau tem mais 10 cms de comprimento do que aquele”...), há ainda a questão de, com o artigo definido “os”, se reunir (confusamente) no mesmo saco um “grupo” de seres humanos, fazendo tábua rasa de toda a incrível e inabarcável complexidade de um único humano. “Os” negros, “os” brancos.

Que sentido tem, realmente, dizer-se: “os negros são menos inteligentes do que os brancos”? Mediu-se a inteligência de todos os Negros e comparou-se com a medida da inteligência de todos os Brancos? E amostras – há-as? Pode haver? Deve haver? Uma pesquisa que procure aferir se certos humanos preferem gelado de baunilha em contraste com outro grupo de humanos que prefere gelado de morango tem a mesma qualidade ética (trata-se de decência, aqui) que uma pesquisa que procurasse determinar se os Brancos são mais ou menos inteligentes do que os Negros?

(...)
É possível que o descobridor da estrutura do ADN padeça duma espécie de confinamento do olhar. Não é o primeiro. Não será o último. Um olhar incrivelmente atento, perspicaz, a um determinado ponto. Mas que deixa literalmente de fora outras realidades. Outras verdades.

2 comentários:

Pequena Papoila disse...

Ora para mim, tudo não passa de racismo puro e duro, encapotado por estudos pseudocientíficos, não comprovados através do ADN - é apenas uma mistificação do dito James Watson.
O racismo tanto existe da parte de grupos de brancos como de negros.
A inteligência ou se tem, ou não, mais num ser, que noutro, não importa a raça/casta. Somos todos seres humanos e há que respeitar as diferenças; na diversidade é que se encontra a beleza e a riqueza que cada ser contém.

Pedro disse...

Querida Áurea, esta gente discute à volta do quê? Quimeras genéticas? Pretextos para futuros subsídios estatais? Dum lado e do outro vejo uma imbecilidade confrangedora e só darão fruto a novas guerras e a novos pretextos para histórias de desgraçadinhos...