O silêncio da noite esconde o tempo, que impiedoso me espreita anunciando com suas trevas dias que eu não queria para mim. Ameaça-me com aquilo que conheço e desconheço, com o nepotismo do mundo dos homens e a ditadura imprevisível do desconhecido.
O horizonte previsível e o invisível misturam-se em tons cinzentos formando um tapete de fumo que passa sob minhas pernas sem que eu nada possa fazer.
O mundo à minha volta esvai-se no ruído insondável do devir, que não é eterno mas sim de uma finitude iminente e inultrapassável.
O mundo físico está transformado em ruínas e em despedidas sem poesia nem emoção.
O poeta deteve-se na sua gruta, rodeado de memórias, que apenas lhe mostram o peso dos anos, dos meses, dos dias...
O caminho ultrapassou o peregrino, a fé enganou o crente, a promessa nasceu da mentira.
Já nem o eco do grito se faz sentir no coração do guerreiro vencido pela cobardia, rendido que está ao mundo dos sentidos.
Resta a esperança de morrer na praia, com o consolo de não haver nada mais belo do que a praia à noite.
2 comentários:
...com o som das ondas a embalar o sono eterno.
se o sono eterno for embalado pelas ditas, será belo!!
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