domingo, 22 de novembro de 2009

Serviço público cafeano

Francisco Pedro Gontier (Maine) de Biran (1766-1824)

A Ideia de Deus

A causa de todas as existências, que é o objecto próprio da razão, não pode por esta ser concebida senão como necessária, una, absoluta, eterna e imutável, ou não seria ela o objecto mesmo dessa razão. Todas as verdades necessárias que o nosso espírito encontra, e que não engendrou, têm esse carácter essencial de eternidade e imutabilidade; elas eram, antes que o nosso espírito as pudesse ter engendrado, e serão as mesmas depois de o nosso espírito cessar de as aperceber; e serão ainda, quando já nenhuma inteligência finita como a nossa as compreenda.

[...]

O Panteísmo

Já o panteísmo, que ignora ou nega o individuo e a personalidade, para tudo reduzir à ideia abstracta e colectiva de substância, acaba excluindo aquelas que são as unidades por excelência: Deus, e o Eu como consciência.

Eis a negação absoluta da religião como moral; eis o produto monstruoso da razão em toda a sua força, uma razão que, de um ponto de partida falso, vai por longo e tortuoso caminho chegar ao último termo do absurdo. O sentimento moral e religioso desaparece do coração humano, é a morte completa. E, se nos privou de tudo o que valoriza a existência, muito bem faz o panteísmo de nos privar também da própria existência, já que nega que somos pessoas verdadeiras.

2 comentários:

Carlos Pires disse...

Se Deus é a causa de todas as existências, então ou é também a causa de si mesmo ou não existe.
É fácil perceber o que significa "não existe": podemos pensar em inúmeras coisas que não existem: sereias, anjos, pessoas sem defeitos, etc. Mas o que significa "causa de si mesmo"? É incompreensível. Tudo aquilo que conhecemos é causado por algo diferente de si mesmo.
Se isso - eventualmente - não chegar para garantir que Deus não existe, chega pelo menos para dizer que as pessoas não compreendem realmente o que estão a dizer quando dizem "Deus".

Pedro disse...

"podemos pensar em inúmeras coisas que não existem: sereias, anjos, pessoas sem defeitos, etc"

Pressuposto falso do ponto de vista científico e racional - que a si lhe deve ser muitoi caro, presumo - pois não há modo de provar tais inexistências, mas sim indicar que a sua ocorrência nunca foi registada.

"Mas o que significa "causa de si mesmo"? É incompreensível."
Pois é. E tudo aquilo que não compreendemos tendemos a rejeitar. É o que faz o ateu que não foi educado na fé religiosa, até mesmo quando involuntariamente pronuncia a palavra Deus - que como muito bem o senhor Carlos diz, não sabemos realmente o que estamos a dizer.

"Tudo aquilo que conhecemos é causado por algo diferente de si mesmo. "
Será conhecemos tudo? Há tanta coisa ainda por conhecer... Mas vamos admitir que sim. Deus para ser Deus nunca poderia ser igual ao "tudo". Mesmo um Deus imanente a todas as coisas.