terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

O Carnaval vai nu em Braga assim como no resto...

O segundo comandante da PSP, Subintendente Henriques Almeida, adiantou anteriormente à Lusa que a exposição dos livros estava a atrair a curiosidade das crianças que brincam na zona - uma área pedonal no centro da cidade - cujos pais se mostravam incomodados com o facto.
As crianças, que ali brincam em grande número, terão visto o livro e começado a chamar outras para irem ver a pintura, o que levou as mães e os pais a chamar a PSP, acentuou.
"Havia possibilidade de haver discussões e mesmo desacatos entre os livreiros e os pais das crianças", afirmou, frisando que vários cidadãos se dirigiram ao piquete da polícia que se encontra "de guarda" ao Banco de Portugal queixando-se e ameaçando "tomar medidas".
Henriques Almeida afirmou que, pessoalmente, "não considera a reprodução do quadro como pornográfica", garantindo que não foi "censória" a intenção da acção policial.
"Se não tivéssemos agido e houvesse desacatos, éramos criticados... Assim, decidimos agir preventivamente", sublinhou.

Não podia deixar de vir aqui chatear um bocadinho os diversos "istas" nacionais, tais como progressistas, liberalistas e demais ideólogos carregados de pruridos doutrinários, acerca dos acontecimentos de Braga.
  • A apreensão dos livros em questão não se deveu ao conteúdo dos mesmos mas sim aos efeitos que estavam a causar. Efeitos esses que pelo visto estavam a afectar a ordem pública. O papel da polícia é assegurar esta.
  • O facto de ter sido uma iniciativa localizada de um organismo público demonstra capacidade de autonomia em relação a poderes centrais. Tivesse vindo uma ordem do género da sede de uma qualquer instituição de autoridade e aí teríamos pano para mangas para dissertar sobre a censura e o autoritarismo do Estado ou entidade paralela. Não foi o que aconteceu. Aliás, o efeito que determinado livro ou outro suporte de comunicação causa em Braga é diferente do que causará no Porto, Lisboa ou Faro. Daí faz sentido que as autoridades policiais tenham autonomia e liberdade de decisão. Se feriram alguma constitucionalidade ou regulamento, pois que o justifiquem devidamente com factos. E isso já o tentaram começar a fazer perante a comunicação social.
  • É incrível que os incondicionais apoiantes da regionalização e descentralização se indignem contra aquilo que chamam "o abuso de poder dos quadros médios e regionais dos organismos públicos". Quando houver regiões de facto não é suposto elas terem autonomia que lhes permita discernir tendo em conta as especificidades da região onde vivem?
  • Tudo isto me leva a concluir que liberalistas e progressistas querem eles sim impor uma moral ou falta dela a todos os outros cidadãos e instituições, mostrando-se quando esses padrões morais-doutrinários são infringidos mais centralistas do que Mussolini.
  • É ridículo haver agitação devido a uma imagem de nudez? Talvez sim. Têm as pessoas o direito a reagirem consoante seus padrões morais e sociais a determinado estímulo? Têm desde que não afectem a ordem pública. A ordem pública foi afectada e a polícia local agiu. Não seria ainda mais atentatório contra as liberdades e garantias se ela tivesse procedido à admoestação ou detenção dos alegados agitadores?
  • O corporativismo de antanho não podia faltar aqui e a Apel já veio a lume também bradar aos céus pelo acto da polícia. Não seria mais razoável dialogar com as autoridades locais e estudar um modo de colocar o livro sem causar os efeitos em questão, indesejados para as vendas bem por certo?

É preciso um haver barulhinho qualquer para as máscaras de Carnaval caírem de maduras...

4 comentários:

Ana disse...

O livreiro é que sabe de marketing...
E a editora também, ou não teria escolhido aquela pintura para capa do livro.
O quadro poderá ser um bela obra de arte mas eu cá acho-a de um certo mau gosto.
No final, as encomendas, aposto, terão superado em muito as expectativas...

Abraço

Este país continua sendo uma tristeza, com ou sem Carnaval.

Pedro disse...

Ana

Tudo isto por causa de 5 exemplares apreendidos a um preço de saldos, como é costume neste tipo de feiras. Se eu fosse a ele fazia um leilão...
Cá para nós ele sabia o que estava a fazer ao pôr aquilo em destaque... Não o censuro, no meio da tristeza que bem mencionas.

Pequena Papoila disse...

L'Origin du monde
Gustave Courbet, 1866
óleo sobre tela

Museu de Orsay (Paris)

Esta obra de arte de sentido estético pouco ortodoxo, estando dentro de um contexto erótico, ainda hoje (séc. XXI) consegue ferir susceptibilidades mais sensíveis e conservadoras (embora a dita pintura na capa do livro e colocado à venda numa feira, fosse apenas um chamariz - quanto a mim - para obtenção de um maior lucro).

Aquela pintura devia ser olhada apenas como obra de arte que é!

Retrata com toda a crueza nos seus tons cromáticos, o nu integral de uma zona erotizada no feminino (sexo, ancas, ventre, coxas, cintura e um dos seios), porém, sem ser pornográfica, estando-lhe, isso sim, subjacente alguma sensualidade, todavia, o que se visualiza essencialmente nesta obra pictórica, é um realismo genuíno - não obstante, existir nela (pintura) uma subtil rudeza -, que lhe é inerente.

Beijinho Pedro

Pedro disse...

Áurea

Bem vinda de volta ao Café. Obrigado pela sua dissertação explicativa da obra de arte em questão. Contra ela nada tenho e terá sido a última culpada na confusão. O que está em causa é que há reacções algo pavlovianas por parte da opinião bem-pensante, que sem terem conhecimento dos factos ocorridos reagem com base em aparências quando lhes convém passar determinada imagem.

Beijinho e apareça sempre.