segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Querido Café,

Devo assegurar-te tranquilizando-te que a pouca frequência de postas não se deve a problemas vários que dificultem a inspiração blogária ou tampouco irei recorrer à já corriqueira desculpa da falta de tempo. Antes pelo contrário, as novas luzes crepúsculo-nascentes que anunciam uma nova era mundial têm-me entusiasmado deveras e esta realidade tem absorvido o meu tempo antes despendido para malhar em alguém aqui no tasco. Fiat Lux! Pois não é que a "crise" de que tanto se fala por aí está a dar origem ao renascer do amanhã antes cantado nos idos anos da Primavera revolucionária! Pois, é o que leio, de modo entusiástico, deste episoódio da nacionalização do BPN!
Pois querido café, ainda bem que o Banco de Portugal tem estado tão sossegado e deixar afundar estas quimeras capitalistas de modo a que estes negócios bancários se desloquem para as sapientes e portectoras mãos do papá-Estado. Imaginem o número de agências e escritórios que irão nestes próximos dias enriquecer a Função Pública e as "novas oportunidades" que se vão abrir. Eu, como bom portuga, sempre tive o sonho meio oculto no subconsciente de me tornar funcionário público, aqui fica confessado! Já nem falo no pitoresco daquelas mangas de alpaca a proteger a camisa! Mas, aquelas horas cheias de dignidade dedicadas ao almoço; aquele recomeçar de tarde numa indolência nobre assente em olhos analíticos sobre dossiês respeitantes ao interesse da Nação!... Sei lá que mais. Só o anunciar da possibilidade faz-me arrepiar os poros de entusiasmo. A bem da Nação claro está!
Pois, em boa hora chegou a dita "crise", pois tenho para mim que em cada bom português existe um funcionário público pronto para despertar. Despertar para o seu eterno e atávico mundo interior do almoço em casa; do trabalho que se vai fazendo sem pressas desaconselháveis e insensatas; da horinha para sair e para entrar sempre de maleta na mão e novo fatinho/paletó comprado no Corte Inglês (agora também por cá) para mostrar ao invejoso do colega que as dívidas até já estão quase todas saldadas aos bancos e prestamistas. Pois a nossa hora chegou, caros compatriotas leitores do Café, pois a onda nacionalizatória do governo há-de criar mais e novos manás da sempre segura e garantidista Função Pública!
Se algum de vocês puder meter uma cunha aqui para moi même, aqui o Café ficaria grato. Aliás, eu com o meu lirismo entusiasmado com o novo Estado de coisas já me imagino a dar o nó à gravata a meu jeito e entrar no BPN preparado para encher a secretária de papéis e preparar-me para enfrentar o próximo cliente com tal prosa tão bem limada que nem eu nem ele vamos entender aquilo que foi dito. Mas, partiremos para nova diligência de tal modo cheios de animação em busca de novas soluções para o progresso pessoal e nacional que a conversa e o meu atendimento em si serão factores de somenos importância. Aliás, toda a fúria desburocratizadora se revelou inoperante e desumana, logo o refazer do aparelho estatal terá de reburocratizar e re-centralizar de novo o sistema de forma a que cada passo seja feito em tempo suficiente e trabalhoso quanto baste para nos fazer reflectir e debruçar sobre nós próprios e os outros que nos rodeiam.
Finalmente, e em suma, chegou ao fim o pesadelo do neoliberalismo e a aurora anunciada sábia e intuitivamente por Abril finalmente está a renascer em pleno Outono! Que mais poderemos almejar?

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