domingo, 16 de dezembro de 2007

A alameda das almas

Está disponível o n.º 10 da Alameda Digital, o último do ano. Desinteressadamente publicito esta revista digital e de modo apaixonado destaco parte do artigo de Isabel de Almeida e Brito Tradição e Modernidade
Como o comandante na proa da caravela a perscrutar «mares nunca dantes navegados», com a responsabilidade de todo o navio cheio de homens e de todas as famílias deixadas para trás e de todo o povo e do seu rei perante quem responde, nós precisamos de uma força que nos anime a prosseguir, um vento vindo das nossas costas, do nosso passado, e de uma força que nos atraia para a frente, para lá do nosso actual limite.

A força que nos impele precisa de ser forte e densa, tão forte e densa que realmente nos seja útil, que cheguemos a chamá-la nossa. Para que isso aconteça, temos de nos aperceber de quem somos, no âmago da experiência que temos de nós próprios: no nosso âmago somos desejo de significado, de verdade, de beleza, de justiça, desejo de sermos felizes. Onde encontramos uma hipótese de significado, aí encontramos a nossa tradição. A tradição é-nos passada como uma proposta de sentido para tudo o que vivemos, uma proposta que revela a verdade, a beleza, a justiça com tal potência que nos faz capazes de identificar a correspondência entre os desejos mais fundos do nosso coração e as circunstâncias que vivemos. A tradição é assim uma hipótese de significado para a vida que chega a nós verificada como verdadeira por muitas pessoas antes de nós. A tradição não se reduz a um código de conduta transmitido e imitado mecanicamente: talvez a esta redução se possa chamar «tradicionalismo» A tradição é um vento forte que sopra do passado com o conteúdo da nossa esperança e o ânimo da vida plena de outros.

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