quinta-feira, 10 de maio de 2007

Ser liberal-conservador

Deparei-me com este excerto da autoria de Miguel Morgado do Cachimbo de Magritte a propósito de um livro de Daniel Mahoney. Esta é uma dissertação excelente e que vai ao encontro do meu pensamento e das minhas ideias políticas. E como há que aproveitar o trabalho feito por outros, o qual nos poupa a nós o esforço de fazer algo sofrível e que chovesse no molhado, limito-me a transcrever parte do texto mais significativa e remetendo o leitor para o resto.

"(...) o “liberal conservador par excellence” é “um crítico, com princípios, das ilusões progressistas”. O “liberal conservador” sabe que o pensamento “progressista” – isto é, a ideia de que o “desenvolvimento económico e social arrasta consigo necessariamente o progresso moral” – não é mais do que uma crença ideológica, um salto de fé num domínio para o qual a fé não pode ser invocada. Contudo, sendo um crítico das “ilusões progressistas”, o “liberal conservador” é correlativamente orientado pela “rejeição, com princípios, de sucumbir, quer à nostalgia reaccionária, quer à impaciência revolucionária”.

Apenas a ignorância acerca da história das ideias políticas e o dislate alarve podem estabelecer uma dissociação inevitável das ideias liberais e das conservadoras. Apenas na cabecinha de quem pratica o uso e abuso do termo liberal, o equívoco entre o conceito absoluto e o político-filosófico, assim como a apropriação indevida da palavra por parte de movimentos políticos que não são mais que uma versão arrevesada da social-democracia com contornos activistas das causas ditas fracturantes podem criar qualquer engodo no parelismo entre estas correntes ideológicas.

7 comentários:

cristina ribeiro disse...

Repito aqui(acho que nunca é demais!),o que já tinha dito lá:Muito Bom!

Pedro disse...

Pois muito obrigado, Cristina, embora neste caso não tenha tido nenhum mérito agradeço a visita.

Miguel Madeira disse...

Eu, que não sou liberal nem conservador, pergunto: será que é possível ser-se liberal-conservador numa sociedade sem tradições liberais. P.ex, é possivel ser-se liberal-conservador no Afeganistão, ou um liberal afegão terá que ser, forçosamente, anti-conservador, e um conservador afegão anti-liberal?

Miguel Madeira disse...

Já agora, que dizem destes artigos (nenhum dos autores é social-democrata):

http://www.attackthesystem.com/libcon.html
http://www.lewrockwell.com/rothbard/rothbard77.html
http://www.mises.org/journals/lar/pdfs/1_1/1_1_2.pdf
http://emp.byui.edu/DavisR/202/Libertarians.htm
http://www.umich.edu/~mrev/archives/1999/3-31-99/pg6.htm
http://www.attackthesystem.com/conservatism.html

Pedro disse...

Caro Miguel

Claro que as ideologias são fruto de contextos e não existem no abstracto.
Nesse caso num país como o Afeganistão, por exemplo, um indivíduo zeloso pela sua liberdade individual e independência face ao Estado e demais instituições e respeitador da liberdade dos outros poderá ser considerado não propriamente liberal ou libertário mas sim um revolucionário, uma vez que vai contrariar preceitos islâmicos enraizados na mentalidade vigente. Ao passo que o conservador será aquele que pretende manter o 'statu quo' e mostra cepticismo (se não mesmo ódio) às transformações sociais.

Ora, precisamente o que une liberais a conservadores numa sociedade ocidental é precisamente o cepticismo em relação às fórmulas ditas progressistas de transformação social. Nestas está incluído o anarco-capitalismo, patente em alguns dos textos que o Miguel citou no último comentário. O libertarianismo miseano e o anarco-capitalismo nunca poderiam alinhar-se numa matiz ideológica conservadora pois eles nunca poderão pôr suas ideias em acção sem uma transformação radical da sociedade: progressismo.
O liberal-conservador é conservador precisamente no aspecto de rejeitar qualquer ideia ou crença na necessidade de uma revolução de mentalidades da ordem que um anarco-capitalista impõe. Seja pela via revolucionária ou na crença num futuro utópico qualquer radicalismo neste género tem obrigatoriamente de acreditar na bondade do ser humano e em capacidades de adaptação superiores às que este já demonstrou. O conservadorismo presente no liberal-conservador sorri cinicamente perante tamanho amanhã-que-canta.

Voltando aos contextos, ao ler de passagem os interessantíssimos textos que me indicou concluo com maior certeza de que o Miseanismo e o libertarianismo radical não é apenas datável como localizável, após a leitura desta passagem do texto de Rothbard:

"Pessimism, however, both short-run and long-run, is precisely
what the prognosis of Conservatism deserves; for Conservatism
is a dying remnant of the ancien regime of the pre-industrial
era, and, as such, it has no future. In its contemporary American
form, the recent Conservative Revival embodied the death throes
of an ineluctably moribund. Fundamentalist, rural, small-town,
white Anglo-Saxon America. What, however, of the prospects for
liberty?"

Para além dos clichês que ainda perduram, do "white trash", do medo da religião, Rothbard constrói uma definição fechada do conservatismo, ignorando as derivações que este haveria de seguir alguns anos depois. Seja como for, na teoria e na prática, o pensamento liberal conservador nunca se prendeu ao imobilismo, pois como céptico que é também desconfia e se ri do passado e seus ensinamentos. Nem tampouco se opõe às liberdades individuais e aos direitos civis pois tem consciência que a paz social e a evolução de qualquer sociedade parte do indivíduo para o colectivo e nunca o contrário.

Pedro disse...

Desculpe, faço aqui uma denda à última parte do meu comentário. Quando falo em liberdades individuais e direitos civis, não me refiro ao activismo habitual dos progressistas que pretendem por vezes inclui nas agendas políticas causas ditas fracturantes muitas vezes tratadas de modo demagógico. Refiro-me sim a direitos fundamentais que prejudiquem a igualdade efectiva de direitos e de oportunidades.

Pedro disse...

Digo: direitos fundamentais que não prejudiquem a igualdade efectiva de direitos e de oportunidades.
(não, não estou com os copos...)